Paródia

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Da Loucura

"Eu não sei se o que eu sinto por você é doença ou paixão." [C.]

Perdi as contas das vezes que estive doente. Recordo-me, porém, de todos os sintomas:

- Calafrios por todo o corpo;
- Mãos gélidas e trêmulas;

- Pernas bambeantes;
- Pensamentos fixos;

- Embrulhos estomacais (normalmente ocasionados pela ingestão de borboletas - inteiras [elas batem as asas permanentemente dentro de você]);
- Racionalidade inexistente.


Em mim existem alguns acréscimos:
- Decepções constantes;
- Idealizações não condizentes ao real;

- Atidudes e palavras sufocadas;

- Verdade equivalente a esclerose.

Se tais sintomas ocorrerem é eminentemente necessário recorrer aos seguintes medicamentos:


- Desligar-se completamente do mundo cibernético;
- Golpear constantemente os pensamentos;
- Apoiar-se regularmente em leituras;
- Mastigar a língua ao desejo de falar.

E quando adoecer corresponder ao primeiro olhar?

Resposta: FODEU!

Na real - papo reto - paixão é algo tão cruel, às vezes. Isso já é do conhecimento de todos, mas ouço a maioria das pessoas falarem em sentimento gradual (conhecer, depois gostar). Como proceder quando ocorrer o caminho inverso? - gostar, depois conhecer.


Não paro de me preocupar, pois - putamerda - só me ocorre o caminho inverso disso.
Quanto mais o tempo passa pra mim, mais acredito que esse caminho normalmente seguido me será impossível.

Acredito ser tão desnecessário conhecer. Não. Explico: conhecer é necessário, mas como é possível despertar de si mesmo um sentimento depois de tanto tempo?
Conhecer exige tempo. Enquanto você espera conhecer quantos dias não terão passado? Quanto do toque desejado não será sentido?

Eu me curvo à racionalidade. Parabenizo a calmaria. Juro que já tentei até me controlar, contudo, aaah! um sorriso ou uma palavra qualquer me desarma inteiro. Minha mente apaga qualquer resquício de razão e lá estou eu - pulsando.


Talvez seja a idade, ainda não tão avançada. Quem sabe um dia desses eu consiga coincidir o conhecer ao amar. Isso me soa tão impossível. E o problema todo está aí: por não conhecer (pelo menos um pouco) vou passando por cima de várias coisas, abstraindo ressentimentos, desvalorizando a mim mesmo. Desse jeito a única possibilidade é contar com a sorte.

Mas amo - sim! E por que não?

Deixo claro. Não é simplesmente olhar e pronto. Há, ao menos, o inicial interesse de quem avisto. Uma, duas, três vezes já são suficientes para que meu eixo seja esquecido. Quem sabe um dia desses isso aconteça com alguém que também saiba se entregar. Sem dramas, sem tramas. Descartemos o Orgulho (não devo ter isso). Nada de planinhos de início na intenção de conquistar. Entrega.

O problema de muitos é a crença de que a vida é eterna. Meu problema é pensar que viverei até amanhã.


P.S. "Mesmo se as estrelas começassem a cair, luz queimasse tudo ao redor e fosse o fim chegando cedo, você visse nosso corpo em chamas. 'Deixa pra lá'".




terça-feira, 27 de julho de 2010

Do Trauma

"Teu corpo é gostoso, teu rosto é bonito". [L.U.]

Sigo um princípio: se a beleza for grande, nem tento.

Se por devaneios advindos da cerveja eu infringir tal princípio concluo-me tolo.

É, eu não me garanto mesmo. Sinto-me desinteressante mesmo. E estou tão fechado para possibilidades de felicidade instantânea e efêmera (uma boca qualquer na minha, numa noite em que eu esteja por aí) que me espanto com qualquer interesse atribuído a mim.

Duvido de elogios. Desconsidero-os.

Eu busquei tanto a rejeição que hoje ela já me parece certeira. Em qualquer tentativa dou passos atrás e desvio do caminho para não ouvir negativas. Ando dizendo por aí que a solidão me faz bem, mas logicamente é mentira. Muito mais confortável é bolar uma desculpa para esse "dom de conquistar" que não me cabe.

Traumas são tão crueis.

Quando, por falta de opções, alguém me aceita ou procura fico curioso, desejo saber qual motivo para suposto interesse. "Olha pra mim! Existem pessoas melhores por aí...". Não encontro respostas, mas prefiro acreditar que todo mundo sente um pouco de carência, ocasionando minha não solidão momentânea.

Admiro fotos de quem esteve presente. Vejo beleza e morro na dúvida. Uma beleza unânime me faz desviar o olhar, como se fosse uma ofensa aos meus olhos.

Como uma nova mania para camuflar o desinteresse, perco bem menos tempo frente ao espelho, assim tenho uma desculpa para não receber o olhar de ninguém.

Sim. Traumas são crueis.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Da Interpretação

"Você vê tudo, vê cada pedacinho". [A.M.]

Creio que não há nada mais triste para mim do que ser mal interpretado.

De diversas maneiras eu tento transparecer alguém que existe em mim, mas que às vezes é ofuscado por uma grossa casca formada por todas as frustrações que tive.

Não consigo não me incomodar com qualquer sorriso de lado que atribuem a mim.

Explico, divago, aponto teorias. Busco em minha memória provas para que possam entender o exato motivo das minhas ações e palavras.

Um olhar de soslaio acaba comigo, um tom de ironia me destroi.

Por um grande período de tempo eu me autoanaliso, coloco-me no lugar de quem pensou errado. Julgo-me culpado. Acabo comigo mesmo. Dou valor a detalhes que não importam a ninguém.

Sinto-me cansado. Envelheço mas ainda sou capaz de brincar. Contudo, pra essa criança que em mim existe, o brilho no olhar, a esperança, parece ter se perdido.

Angústia.

domingo, 25 de julho de 2010

Da Poética 2

Não posso esconder mais nada
Você fez o que eu já não acreditava que pudesse acontecer
Trouxe o que ninguém foi capaz
E eu consigo sorrir ao lembrar de você

Mesmo quando está frio
Mesmo quando nada está legal
Mesmo quando vejo que os planos saíram do eixo
Pois eu sei que logo estaremos juntos

Você não disse não
Quando eu precisei tanto de um sim
Você não silenciou
Quando eu precisei tanto de uma voz perto de mim
Você não escureceu
Quando eu tanto precisei de uma luz pra me guiar

Mesmo quando estou cansado
Mesmo quando sou julgado
Mesmo quando meu sonho se distanciou ainda mais da realidade

Eu ainda assim posso sorrir
Pois eu lembro de você
E sei que logo estaremos juntos

E não quero interferir na sua liberdade
Não quero falar quando o silêncio você desejar
E não quero exagerar no seu momento de cautela
Não quero intimidar seu momento de explosão

Pois mesmo juntos eu consigo me sentir livre
Porque sua presença sem a sua voz
Já é suficiente para me acalmar
Pois é bela a pureza da sua rara timidez
Pois é um imenso prazer sentir sua intensidade

Enxergam meu sorriso agora
E estranham pois eu estava apenas pensando
Suspeitam novamente da minha loucura
E estão certos de que eu não tenho explicação

Mas se um dia me perguntarem
Porque meu riso nasce do meu pensamento
Porque a alegria está presente no meu dia
Em algum inesperado momento
Eu direi que existe um culpado por tudo isso

Que habita meus pensamentos
Que acalma meu coração
E que sacia meu desejo...sim!

(19 de junho de 2008)

sábado, 24 de julho de 2010

Da Epístola 2

"E tudo o que eu realmente quero é uma sintonia. Tudo o que eu realmente quero é uma relação intelectual - uma alma para cavar mais fundo". [A.M.]

[...]

Você me fez rir a toa; fez-me sonhar acordado antes de dormir; fez-me acordar mais feliz, pois eu tinha pra onde fugir qdo as coisas ñ estivessem boas; eu tinha onde encostar minha cabeça e lamentar e receber a forma mais pura de carinho depois disso. Pois sua presença era o suficiente. Vc me era suficiente.

[...]

Qto mais longe eu deixar essa situação chegar, mais machucado eu posso ficar. Lembra daquela emoção da 1ª semana? eu ainda a posso sentir, posso sentir q ela está crescendo, além disso.
Mas...e vc? vc consegue sentir emoção? vc consegue me engajar nos seus planos? vc consegue abdicar de seu tempo pra ficar comigo? vc consegue sentir orgulho de mim? vc consegue me ver, fazendo parte da sua vida, no futuro?

[...]

Mas eu ñ posso segurar [...] sozinho. [...]

Os sentimentos são irracionais, então não posso exigir q vc sinta o mesmo por mim. E antes q eu esteja afogado nesse sentimento, prefiro nadar para junto de vc, e ficar na superfície. Preciso pensar em mim, e me conhecendo bem, sei q seria uma pessoa bem ferrada, se vc decidisse ñ querer mais, depois de um certo tempo.

Talvez vc pense..."como ele pode ser idiota? ñ tem como saber até qdo estarei afim"...talvez ñ tenha mesmo, mas eu ñ posso ficar na expectativa de q vc se apaixone tb. No fundo vc deve saber o q quer de mim. E, desculpe a redundância, mas...vc sente emoção ao pensar em mim? sente teu coração acelerar? se vc ñ consegue sentir isso, é pq ñ sou eu, mesmo - infelizmente.

Fico mto feliz por ter te conhecido, por ter dado, mesmo q por pouco tempo, um grande sentido na minha vida. Vc foi o mais próximo q consegui chegar...

[...] (11 de julho de 2008)


P.S. Extremamente recortada. Enviada.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Da Paródia 1

"Você deve saber". [A.M.]

Quero que você saiba que estou feliz por vocês
Não desejo nada, exceto o melhor para ambos
Uma versão mais madura de mim?
Ele é tão pervertido quanto eu?
Faria sexo oral em você melhor do que eu?
Ele pulsa como eu?
E ele planejou um futuro com você?
Tenho certeza que ele seria o parceiro ideal

Porque o desejo que você transmitiu e que nós construímos
não foi capaz de fazer com que você se abrisse totalmente, não!
E toda vez que você fala o nome dele
Ele sabe como você usava as mesmas estratégias comigo?
Com as mesmas ínfimas intenções?
Mas isso ele nem deve imaginar

Você parece muito bem, as coisas parecem em paz
Eu não estou tão bem assim, achei que você deveria saber
Você se esqueceu de mim, Ms. Falsidade?
Detesto te incomodar durante o seu descanso
Foi como um tapa na cara o quão repentinamente a indiferença
se fez presente em você
Você pensa em mim enquanto transa com ele?

Porque o brinquedo que você usou era eu
E eu não estrago
E nem vou sumir quando você fechar seus olhos e souber disso
E toda vez que eu passar as mãos no corpo de outro alguém
Espero que você sinta... bem, você consegue sentir isto?

E estou aqui para te lembrar
Da bagunça que você deixou quando foi embora
Não é justo aceitar
O peso que eu carrego e que você me deu
Você, você, você deve saber.

P.S. Paródia, aqui, não diz respeito ao termo em que se lança mão o uso da comicidade.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Da Angústia

"Acabou-se. Gosto da pequena, amarro uma pedra no pescoço e mergulho". [G.R.]

Hipóteses. Tudo até o momento não passou de milhares de pequenas histórias criadas em minha mente, na procura de uma resposta ou de uma intriga.

Eu recebo a boca desejada e desabo. Entrego meu corpo e meu espírito nas mãos de quem desconheço. Ingenuidade minha culpar alguém. Ninguém além de mim mesmo foi capaz de afastar quem nunca esteve próximo.

Armo estratégias, planinhos infantis, na expectativa do reconhecimento que não chega. Controlo-me. Sufoco.

Estou mergulhado sozinho num caso existente apenas pra mim. Enquanto todos sobrevivem eu continuo remoendo o que não aconteceu, buscando alternativas inúteis. Irrelevantes pois já não há proximidade alguma com o ser desejado.

Meses. Semanas inteiras transcorrem até eu finalmente optar por uma postura mais indepentente.

Depois de lágrimas ainda a procura pelo ser um dia almejado, na busca de respostas para sua vida que acontece sem mim. Como é possível?

Outra boca. O que fazer agora?

Falar sobre minhas conquistas, esconder toda minha podridão. Agir depois de receber a ação.

Entrega? Não há. Se ocorre, o afastamento vem em seguida.

Amar ao olhar? Ridículo.

Fácil? Certamente.

Vulgar? Quando o sexo fazia um sentido maior do que faz agora.

E amanhã você vem? Esse questionamento não é permitido. O dever é abrigar o "natural" que tanto falam por aí. E como ser natural se para isso seria necessário eu me entregar? Entrega é o oposto do natural.

Sempre estarei aqui com o mesmo sentimento, os mesmos sonhos, sempre a esperar, sempre sufocando, na mesma angústia, com as ironias de sempre.

Passional? Pulo essa.

P.S. "O amor para mim sempre fora uma coisa dolorosa, complicada e incompleta". [G.R.]

domingo, 18 de julho de 2010

Da Fantasia

"Eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim mesmo." [C.]

De repente eu estava na outra ponta do país, com diversas pessoas desconhecidas a minha volta.

Breve, quando há prazer e olho pra trás sinto como se tivesse vivido um sonho. Numa boemia sem fim eu acordava de ressaca, no horário que eu quisesse, coçava a tarde toda e me preparava, à noite, pra mais uma festa.

Risos, risos e risos. Lá estava eu comentando de todas as pessoas relativamente estranhas que passavam. E sentimentos pulsantes, uma intensidade louca que me fez perceber o quão minha própria mente pode ser capaz de me ferrar.

Eu me pergunto ainda, como há espaço pra orgulho e repressão quando a vida esfrega a todo momento em nossas caras a capacidade cruel da passagem do tempo. Antes de embarcar, na volta, olhei o espaço em torno de mim e pensei "Quando estarei aqui novamente?". Lágrimas.

Num sopro veloz fui insuflado à realidade novamente. Disciplina.

Em 7 dias fui capaz de amar. Senti amizades tão fortes chegarem e logo partirem. Fica claro como estamos a todo momento sendo preparados para a morte. Porque é a morte tudo isso. Momentos que nunca mais ocorrerão. Sentimentos que se extinguem com a distância.

O que então é viver se não sonhar?

Eu olho pra semana que acabou de passar e não consigo associar momentos da minha vida com o real. Tudo parece ter sido um sonho bom, mas não parece ter sido vivenciado por mim. Como uma droga que a gente toma e nos faz criar belas situações. Fuga. Procura.

Quando bebo sem amar busco um estágio paralelo de humor que me proporciona uma soltura suave e bonita.

Quando amo, bebo numa intenção desesperada de fuga e dou de cara com a situação. O alcool não me proporciona o esquecimento e sim a intensidade. Volto, então, a lembrar da rejeição que me abriga e desabo. Mas é lindo. Lindo sentir. Pior é passar anestesiado por tudo isso.

Chorar também é bom. Sofrer nem tanto, mas tão inevitável, que desisto de ser forte - seja lá se lágrimas significam fraqueza.

Cá estou eu: minha casa, meu quarto, o conforto, e um sonho de uma semana que pede espaço em minha memória.

P.S. "Viver é muito perigoso". [G.R.]

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Do Belo

"Teus pêlos, teu gosto, teu rosto, tudo. Tudo que não me deixa em paz." [C.]

20 anos!

São Paulo:
Eu já devia estar pelo chão buscando firmeza em meus joelhos para poder engatinhar. Mais necessariamente D. Maria devia estar acordando pela 3a vez daquele 7 de julho de 1990 para alimentar seu filho de 8 meses.

Rio de Janeiro:
Ele dava seu último suspiro na mesma data, às 7h da manhã, no seu definhamento de corpo que por poucos anos sobreviveu ao terror daquele mal estar permanente.

20 anos Sem ou 20 anos COM?

Agenor. Cazuza. Caju.
Surpreendente. Intenso. BELO.

Na última Segunda-Feira fui num tributo ao Cazuza. A satisfação sentida por ouvir várias de suas músicas foi gigante. Tantas letras que possuem todo o sentido do mundo.

Eu. Que sou um "maior abandonado" pedi "piedade pra essa gente careta e covarde" e admiti novamente que "viver a liberdade, amar de verdade, só se for a dois".
Eu. O único "que podia, dentro da sua orelha fria, dizer segredos de liquidificador" perguntava para a flor ao meu lado "por que a gente é assim" por "dar com a minha cara de panaca pintada no espelho".
Eu. "Num clipe sem nexo" dei uma de "exagerado" e cantei até ferrar meus pulmões "pro dia nascer feliz".

E hoje, cá estou eu encontrando em suas músicas muitas das respostas que a vida não é capaz de dar. Sendo assim, talvez não possa afirmar com tanta convicção que hoje se completam 20 SEM Cazuza.

Ele está soprando seu canto tão doce e esquecido em meus ouvidos. Dizendo tudo o que eu precisava ouvir. Esclarecendo tudo o que me faz pirar. Pulsar.

O que posso, no momento, afirmar com total convicção é justamente o que um dia Cazuza disse ao falar de Cartola (eu sou um plagiadorzinho barato):

"Cazuza não existiu. Foi um sonho que a gente teve."

P.S. "O amor é o ridículo da vida. A gente procura nele uma pureza impossível. Uma pureza que está sempre se pondo. Indo embora. A vida veio e me levou com ela. Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga idea de paraíso que nos persegue. Bonita e breve, como borboletas que só vivem 24 horas. Morrer não dói. Amor, Cazuza".

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Do Debutante

"Engula isso, um Remedinho Amargo" [A.M.]

Há exatos 15 anos a turnê do Cd que inspirou e traduziu os sentimentos de milhões de pessoas ao redor do mundo teve início.

Num bar dos EUA subia ao palco, com 21 anos e 1 mês, uma mulher usando camisa larga, soprando em sua gaita o início de "All I Really Want".

Meses depois, com as pontas do cabelo quase alcançando a cintura, a cantora Alanis Morissette em uma entrevista afirma que "O que realmente quer" é SILÊNCIO.

Tudo porquê o despretensioso "Jagged Little Pill" não atingiu 1 milhão de cópias, longe disso.
Este, o melhor Cd já lançado em todo o mundo, vendeu 30 milhões de cópias e desestruturou a menina que o compôs, juntamente com os "tops" e premiações existentes acerca da música, já que canções como "Ironic" e "You Learn" atingiram e conquistaram o cume nas rádios e nas premiações, como no Grammy.

É um orgulho e uma tristeza relembrar essa data.

Orgulho pois certamente compartilho essa posição de "o Melhor" Cd existente com diversas pessoas.
Tristeza por ter nascido tão atrasado, visto que, quando o show de tal disco se realizou no Brasil, contava eu com 6 anos e 11 meses.

Mas tudo bem, dizem por aí repetidas vezes "Tudo acontece ao seu tempo", então deixo de lado essa tristeza para expor os motivos que fazem de JLP uma obra de arte.

O primeiro single foi, coincidentemente a música que eu mais amo, "You Oughta Know".
Essa vai pra você, pessoa traída ou substituída que escutará versos do tipo "Faria sexo oral em você no cinema?"; "O brinquedo que você deitou na cama era eu e não estrago, nem sumirei quando você fechar os olhos".
Ao ler a tradução, ainda guri de 15 anos que não sabia nem se cagava ou saía da moita, senti aquele arrepiozinho no corpo, aquele calafrio que adentra, ou seja, aquela emoção extremamente forte quando algo bom acontece.

Em "All I Really Want" encontramos desejos tão parecidos com os nossos, tais como "E tudo o que eu realmente quero é uma sintonia"; "E tudo o que eu realmente quero é uma relação intelectual, uma alma para cavar mais fundo". Sim...e quem não quer?

Nunca compartilhei a ideia de "Perfect", já que nela se traduz um problema familiar em que os pais cobram um tanto de seus filhos, mas a melodia é doce como uma amiga do peito. Lá ouço uma frase forte, como "Qual é o seu problema? Por que você está chorando?".

Ah...e a letra de Hand in my Pocket. Leia em meu ombro a frase mais otimista (e uma das poucas) do disco "E a que tudo se resume é que tudo vai ficar bem bem bem".

Num diálogo com o 1º single, expressa "Righ Through You" um sentimento de ódio explícito em "Você me descartou como um vale-refeição" "Me levou para jantar e transar mas não ouviu nada do que eu disse". Podres, podres, o que seria de nossas vidas sem vocês?

Balizada na religião Católica, Alanis expressa uma certa injustiça em "Forgiven": "Meus irmãos nunca foram culpados pelo que fizeram, mas eu bem que posso ser" e, pra variar, de revolta: "Eu me confessei para um homem invejoso".

Num alívio de tensões encontra-se "You Learn". Muitos acusam Alanis de drogada devido a performance totalmente despirocada que ela mantém no palco. Certamente nessa música encontramos certo motivos para isso. Na turnê, ela dedicava essa música aos fãs e junto à batida da música corria e girava no palco descontroladamente, em intervalos para dizer os famosos versos "Você vive, você aprende". E através dessa "loucura" eu me apaixonei. Ver aqueles longos cabelos no ar ao assistir o Dvd dessa turnê resultaram em diversos calafrios dentro de mim. É demais!

Ouvi dizer que, na única música romântica do Cd o que se tem é uma declaração para uma mulher. Isso se justifica no trailer de "Head Over Feet", pois a Alanis só mostra seu rosto, está escondida, assim como, supostamente, vivencia essa relação homossexual.
Já perdi a conta de quantas vezes escrevi a estrofe "Você já me conquistou apesar do que sou/ Não se preocupe se eu me apaixonar completamente/ Nem se assuste se eu me jogar da cabeça aos pés/ Eu não tive escolha/ A culpa é toda sua". Não é lindo? Pois é, pena que (para mim) nunca deu certo na conquista de alguém, hehehehe. Mas o que importa é que para os amigos que mandei tal sentimento vigora.

"Mary Jane" foi composta para uma amiga da cantora "Você está caminhando em velocidade máxima na direção errada"; "O bonde da última chance saiu do trilho e você estava nele". No fim, Alanis percebeu que a letra da música servia pra ela. E eu percebi que servia pra mim, hehehehe. Vai que também não serve pra você?

E cá está a vencedora do Grammy de 1996: "Ironic" com sua engraçadinha frase "É como conhecer o homem de sua vida e depois conhecer sua linda esposa. Não é irônico?". Não! Não é irônico, minha gente. E é exatamente aí que a ironia se encontra, pois a canção intitulada "Ironic" não é irônica coisa nenhuma. Hahahahahahaha...14 anos depois "Conhecer sua linda esposa" foi substituída nos shows por "Conhecer seu lindo marido" e o guitarrista dava um selinho no baixista. É uma música encantadora, justifica o prêmio e a maioria dos votos dos fãs quando se fala em "a melhor música de Alanis Morissette".

E então encontramos Alanis do outro lado da relação. Em "Not the Doctor" ela escreve à uma pessoa pegajosa e dá várias invertidas. "Eu não quero ser a sua cara metade, acredito que 1 e 1 são 2". Não creio ser relevante explicitar mais versos, nesse já encontra-se uma beleza ímpar. É uma grande permormance na turnê 1995/1996 também. Os gritos dela, os pulos dela, os gestos dela, o cabelo dela, o domínio de palco dela, a expressão facial dela...

Última canção do disco. Em "Wake Up" já se percebe uma tendência mais introspectiva, que será a linha do próximo e também belíssimo CD - Supposed Former Infatuation Junkie. "A rosa que caiu no seu chão não tem valor sentimental algum"; "Há uma aversão óbvia pelo caminho menos difícil de sua vida e nada faria você tentar essa noite" são versos que, sem dúvida, explicam a medalha de prata para essa música quando penso no setlist de Alanis, e também no setlist da minha vida.

Eu disse último? Menti. Tudo bem, na verdade todos mentiram. No Cd você não encontrará escrita a faixa "Your House". Isso porque é "a música escondida". Sim. Foi uma ideia genial. "You oughta Know" é a faixa bônus do CD. Ela também pode ser ouvida depois de "Wake Up", mas se você aguarda pouco mais de um minuto, ouve uma voz, sem acordes nenhum acompanhando, em que o triste refrão exprime, ao final, "E você me perdoaria, amor, pelo sal na sua cama? [...] me perdoaria se eu chorasse a tarde inteira?". Isso porque ela, furtivamente, visita a casa de seu amado e encontra um bilhete de uma outra mulher no qual está marcado um encontro. Triste.

Ahhh...

E é isso. Pois é. Eu já me vi em quase todas as situações/ letras desse CD. E é por isso que eu o amo tanto. É belo você ler e ouvir algo que dialoga, traduz o que você sente. Eu admiro tudo o que consegue me tocar e a todos que também fazem isso. E isso é a causa de eu admirar tanto a Alanis.

1996...ah, se fosse hoje...

P.S. Traduções baseadas no Dvd "Jagged Litlle Pill, live" (Assistam!).