É estranho pensar que o melhor ano da minha vida está repleto de tantas ausências, tantas partidas.
Um ano em que o cansaço foi tão forte, que desistir foi uma solução ideal. O melhor ano talvez porque não amei ninguém ao ponto de passar dias no escuro me lamentando por partidas e sonhando com regressos. Se o amor me foi sempre sinônimo de frustração e desilusão, provavelmente esse foi o motivo que fez este ano ser tão tranquilo. O choro que chegou através de muita concentração.
Um ano em que percebi o egoísmo se manifestanto em todas as esferas. O interesse se confundindo com amizades. As amizades...amigos de sangue, que também se foram. Não porque eu não tenha lutado, mas certamente porque me esforcei menos por eles. Pensar em mim mesmo só me fez voltar o olhar pra quem está dentro da minha casa. Minha família que sempre me espera.
Um ano em que meus sonhos mudaram de direção. Descobri que essa "estabilidade" que a sociedade me impõe não é o que busco. Quero o conhecimento, de coisas gigantes e pequenas. A mudança de ambiente e de discurso. Quero ouvir uma música.
Um ano em que conheci Cazuza mais a fundo. Me esforcei um tanto pra conhecer mais músicas também. Esse também foi um artifício que fez eu me afastar de algumas pessoas. É simples: perguntei pra alguns o que eles gostavam de ouvir. Não existia idolatria por nada, eu me afastava.
Um ano em que analisei em silêncio milhões de fatos. Em silêncio permaneci diante de muitas indignações. Não compartilhei tudo com todo mundo devido a traumas passados, o que foi bom, no fim das contas. Mesmo porque percebi tardiamente que muito daquilo que me é importante, não serve pra nada pra quase ninguém. O tempo que transforma basicamente tudo em lixo e esquecimento.
Um ano em que quando me disseram "deixa pra lá", de fato deixei, mas não minha revolta e meu interesse, apenas. Deixei pessoas pra lá também. A covardia se mostrou uma das piores atitudes pra mim. Pra quem optou por ela, meu adeus.
Um ano em que decidi ser recíproco no valor que me davam. Resultado disso: solidão. Mas uma solidão que me esforcei pra preencher com coisas legais. Guardei meus domingos pra minha família. Assustado, me vi ouvindo a mesma música que há um ano me cortava de cima a baixo e simplesmente não senti nada.
Um ano em que quando ouvi "saudades de você", não botei muita fé e entendi que eram somente palavras. Certos momentos, talvez, em que as pessoas estão num ponto extremo de solidão ou carência e expressam um sentimento que sinceramente não existe, já que não houve nenhum movimento pra sanar essa saudade.
Um ano em que a cerveja foi uma grande companheira. Mesmo com ela na cabeça consegui segurar meu desejo de regressão e permaneci em meu lugar, sem buscar a ninguém. Um medo gigante de rejeição, tão procurada durante todos esses anos. Promessas não me fizeram mudar de posição. Palavras, menos ainda.
O Sol, um belo dia, enfim, é o essencial pra minha vida. Admito: é muito provável que não deixarei de amar. A sensação de completude não veio, porque como todos, também eu usei a razão pra me mover. Razão que ceifou tanto. Mas me apoiei no Sol, no calor pra, ao menos, chegar próximo da alegria. Esta, que infelizmente vem pouco e depende não apenas de mim. Mas alegrias, sim. Um ótimo ano, sim. O melhor de todos.