Paródia

domingo, 12 de setembro de 2010

Da regressão

"A essência do homem é tão nula que só é belo aquilo que não existe". [R.]

É uma maré permanente que joga meu corpo junto à areia. Por todas as direções que tento mergulhar. Sinto-me regredindo, despertando com os golpes violentos que recebe a minha epiderme.

Sou o obstinado regressor.

Volta minha mente ao passado. Estudando, analisando detalhes, retalhando-os em pedaços mais ínfimos a cada revisão.
Volta minha alma em direção às profundezas jamais atingidas.
Volta meu corpo à margem. Mais uma vez enganado pelo olhar que avistou outro caminho (inexistente).

Estático.

Sento-me à beira. Molho meus pés na parte insipiente do âmago marinho. Em minha retina uma interrogação marcada a sal. Minha convicção fortemente segura por minhas mãos perfuradas.

Paralelo à brisa do mar está um trilho exato. Estou contido nele. Depois ouço o barulho do bonde. Afasto-me. Crio, então, um momento propício (certamente falido em meu raciocínio) e vou, golpeado por uma contagem atualmente abstrata.

Silêncio.

Mas como o silêncio se há maresia no raio que envolve minha audição?

Silêncio.

Concentração.

Avisto a imensa linha.

Desejo-a, apenas.
Distraio-me, apenas.
Consciência, apenas.

Razão.