Paródia

terça-feira, 22 de junho de 2010

Da Distração

Bons tempos para o Mal
Minha força vem do céu
Muitas vezes eu me sinto triste
Triste triste
No chão!
Nossa! eu neste mundo...
Papai do céu não me
Deixe sozinho. [M.]


No sábado, como há muito não acontecia, fiquei me revirando na cama sem conseguir dormir. Como estratégia para que o desejo chegasse tentei imaginar um dos meus amores voltando pra mim - são pensamentos tão chatos e repetidos que acabam me dando sono. Mas eu não conseguia me concentrar nessa pessoa. Eu me distraía com o turbilhão de pensamentos dentro da minha cabeça. Então fui "interrompido" pelo telefone.

Deduzi que era um trote, já era quase 1h. Inocentemente, numa fração de segundo, pensei ser outro dos meus amores me ligando. A cobrar. Desligou. Deitei. Novo toque. Atendi. Meu irmão.
Ele havia perdido o último bus voltando do trabalho e pediu para eu ir buscá-lo no terminal.

Eu estava tranquilo, fui sem reclamar. Logo o encontrei e fui levá-lo pra casa. No meio do caminho vejo pelo retrovisor da Ludy uma luz forte refletindo, em seguida um barulho. A polícia.
Como lembrei de levar minha carteira fiquei bem tranquilo. Parei. Eu e meu irmão descemos da Ludy e logo tivemos que colocar as mãos na cabeça.

"Mão na cabeça" - (Bandidos).

Nunca fui parado por policiais. Chega a ser engraçado a forma de tratamento deles. Nos revistaram.

"Documentos da moto!"

E pronto. Tudo certo.

Não!

"Você não sabe que deve parar quando o sinal está vermelho?"

Nossa! Parece que senti um estalo quando o "moço" me disse isso. Eu não costumo infringir regras, sobretudo as de trânsito. Foi num acesso de distração. Eu me desculpei. Ele sorriu num sarcasmo encantador.

"Tua habilitação é provisória? Você vai perder sua carteira!"

Às vezes ouvimos certas coisas tão inesperadas que paramos por um tempo num exercício de concentração para, finalmente, entendermos o que foi ouvido. Ao terminar essa tarefa, vi que o profissional da lei já estava em sua viatura com meus documentos anotando meus dados. Parei. Pensei. Fui falar com ele.

Acredito que fiquei uns 20 minutos num discurso barato e humilhante pedindo para que ele não fizesse aquilo. Ele se manteve naquela pose superior tão bela e invejável.

"Moço, por favor, me desculpe, não faça isso, eu uso essa moto pra ir pra faculdade, nunca fiz nada de errado, não tenho nehuma multa, estou ..., sou..., por favor, por favor, POR FAVOR!"

Até que, finalmente, ao pensar no tempo e no dinheiro que eu perderia para ter uma habilitação novamente. Chorei. Lágrimas e lágrimas escorreram deliberadamente num gosto de sentido do qual eu já desconhecia.

Certamente ele achou aquilo patético.

"Hoje você deu sorte."

E o moço com seu parceiro de equipe se foram para mais um ato de justiça.

Certamente meu irmão estava se sentindo muito culpado.

"Ui. Que discursinho barato! Não aguentava mais ouvir minha voz."

Ele riu.

Eu enxuguei minhas lágrimas.

"Piá. Eu não tava conseguindo chorar!"

Rimos.

Novamente na cama, umas 3h, não precisei imaginar nada.

O sono me consumiu.





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